Faixa de pedestres


Talvez eu devesse ir ao médico. Mas talvez ele me ache louca. Não sei quando começou, mas vem piorando a cada dia. Eu perco a noção do tempo, atravesso os dias querendo voltar para minha cama, tudo parece passar tão devagar. Mas depois, na minha cama, tudo parece ter passado tão rápido, percebo que tive oportunidades de fazer alguma coisa e não fiz, e fico preenchida de vazio. Hum, vazio... Se parar para pensar, o vazio não é vazio, não é? Porque tem células e ar ali. Deve ser mais ou menos assim que eu fico: cheia de vazio, um vazio em que cabe muitas coisas: choros, gritos, arrependimentos e angústia. É que eu pareço viver em uma faixa de pedestres, entre um caminhão de vontade de viver a minha vida e um caminhão de vontade de fugir dela. E, uma hora ou outra, vou ser atropelada. 

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